O apê carioca do arquiteto David Bastos é todo claro – das peças de design contemporâneo aos elementos originais da construção, em um edifício de 78 anos. Elogio à luz, o lugar ainda revela impactantes surpresas coloridas
O polvo e o peixe são gigantes, plácidos, multicores. Parecem nadar em águas de um azul evanescente, substituído pelo mais claro dos tons. Nesse oceano branco, surgem ainda, em vez de outros seres marinhos, pequenas cenas do Cristo Redentor, Corcovado, Pão de Açúcar... A imagem é onírica, mas torna-se real – por meio degrafites – no living do luminoso apartamento de David Bastos, no Rio de Janeiro. “A street art invadiu a casa”, comenta o arquiteto baiano. Para tanto, convidou o artista Binho Ribeiro, livre para criar.
A cor neutra teve outra função: uniformizar aspectos da arquitetura de interiores original. O imóvel fica em um dos primeiros prédios da orla, erguido em 1935. “Mantive, ao máximo, o que havia”, lembra David, que nem alterou a distribuição da planta. Estão lá os mesmos pisos de madeira e as mesmas portas, molduras de gesso e rosetas no teto – tudo equacionado pela claridade. À parte a reforma premente das áreas molhadas, o profissional deixou o protagonismo para a memória do lugar e apostou na contemporaneidade da ambientação descontraída.
A porta do living localiza-se ao final do hall de entrada, marcado por paredes de pedra portuguesa. Antes dela está a passagem para a cozinha e os dois quartos de hóspedes, além do closet e da suíte principal, com uma simpática saleta integrada ao dormitório. Embora o visual suave domine o setor íntimo, o banheiro do proprietário contrasta com o restante. Mármore nero marquina reveste as paredes, cortinas de veludo preto resguardam o boxe, um espelho antigo com moldura dourada encima a pia. “É um toque de glamour do passado.”
Mais formal ou despojado, David Bastos conta com outras duas moradas: em Salvador e São Paulo, onde mantém escritórios. Em suas temporadas no Rio – que completa uma triangulação estratégica para ele –, até poderia instalar-se em hotéis de luxo, mas preferiu investir em um lar próprio, com um pequeno canto de trabalho. “não gosto de arrumar e desarrumar malas”, justifica. Tanto que, em viagens de férias ao exterior, costuma ficar, o máximo possível, em uma só paragem. Com isso, o arquiteto evita aquele enfadonho ritual, além de poder conhecer e sentir mais intensamente o lugar. Como faz na cidade (ainda) maravilhosa.
Diga sim ao grafite
“street art é, por si só, uma expressão artística que pode estar em qualquer lugar, inclusive em casa”, diz David Bastos. Para ele, grafites caem bem tanto em ambientes públicos quanto privados, sejam mais simples ou mais clássicos. Para proteger as obras, sugere exibi-las em locais de menor circulação. “É um tipo de arte livre e, economicamente, menos extorsiva”, considera. O trabalho, dependendo da proporção, pode levar dias. Além de Binho Ribeiro, autor dos desenhos exibidos nesta reportagem, o arquiteto indica o artista Gen Duarte.
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“street art é, por si só, uma expressão artística que pode estar em qualquer lugar, inclusive em casa”, diz David Bastos. Para ele, grafites caem bem tanto em ambientes públicos quanto privados, sejam mais simples ou mais clássicos. Para proteger as obras, sugere exibi-las em locais de menor circulação. “É um tipo de arte livre e, economicamente, menos extorsiva”, considera. O trabalho, dependendo da proporção, pode levar dias. Além de Binho Ribeiro, autor dos desenhos exibidos nesta reportagem, o arquiteto indica o artista Gen Duarte.
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